quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ser português!

Esta manhã no programa “Antena Aberta” na estação de rádio Antena1, a conversa era sobre o tema: características típicas do povo português. Só ouvi os últimos 10 minutos do programa, com a intervenção de uma ouvinte e o resumo do programa, feito por um convidado em estúdio.

A intervenção da ouvinte foi no sentido de dar exemplos do “ser tipicamente português” em comparação com outros povos com quem conviveu. Falou sobre o povo americano e a forma como reage às catástrofes naturais (furacões), que frequentemente acontecem no seu país. Para esta ouvinte, uma característica típica do povo norte americano é a de um optimismo latente, que os leva a reagir rapidamente à destruição provocada por tais catástrofes e darem início a uma rápida reconstrução, sem perderem muito tempo com lamentações sobre o sucedido. Em seu entender, o povo português reage de forma contrária, perde demasiado tempo a falar sobre o que de negativo sucedeu e demora mais tempo a reagir para a reconstrução.
O convidado em estúdio, da área da psicologia, reafirmou que de acordo com os seus estudos sobre a maneira de comunicar dos portugueses, existem de facto características típicas como os gestos, as expressões faciais e também o estarem sempre a lamentar-se sobre as coisas que não decorrem bem.

Sabe-se que os portugueses quando conversam estão fisicamente próximos da outra pessoa, mas nos países árabes a proximidade física na comunicação é ainda maior, o que é claramente uma característica cultural (invisível).

Os gestos na comunicação, fascinam-me desde a infância.
«Era muito pequenina, devia ter mais ou menos três anos, enquanto sozinha observava fascinada a forma como os adultos se mexiam enquanto falavam. Mexer as mãos, o tronco, a cabeça, mas porquê? Que bonito que ficava. Algumas vezes enquanto brincava sozinha, fazia tentativas de me “mexer como os adultos”. […] Ao brincar fazia de conta que era adulta e que falava com outro adulto, reproduzia sons que me pareciam mais complicados no meio de palavras que conseguia pronunciar, e tentava mexer as mãos os braços e abanar a cabeça. Recordo-me de uma tentativa […] consegui conjugar a pronúncia de sons complicados, com os movimentos da cabeça, com os expansivos gestos dos braços e mãos. Que alegria, consegui comunicar como um adulto! Corri para partilhar a notícia. Depois dessa tentativa bem sucedida demorei muito tempo até conseguir de novo […] conjugar num só momento o que representava para mim a beleza visual da comunicação entre pessoas. Curioso é ter consciência, hoje, que o que eu considerei beleza aos três anos de idade ainda considero aos vinte e seis anos.» 1


1 Pinto, Marta (2005) Estética vivida. Manuscrito não publicado.

Notas para a cultura pós-moderna

A ideia de «pós-modernismo» surgiu pela primeira vez na década de 1930, no mundo hispânico, uma geração antes do seu aparecimento na Inglaterra e nos EUA. Perry Anderson, conhecido pelos seus estudos dos fenómenos culturais e políticos contemporâneos, em «As Origens da Pós-Modernidade» (1999), conta que foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, que aplicou o termo pela primeira vez, embora descrevendo um refluxo conservador dentro do próprio modernismo. No entanto, seria o filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação «A Condição Pós-Moderna» (1979), que faria a expansão do uso do conceito.
Na sua origem, pós-modernismo significava a perda da historicidade e o fim da «grande narrativa» – o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da apropriação e da citação de obras do passado.
A obra de Frederic Jameson «Pós-Modernismo» (1991), enumera os seguintes ícones desse movimento: na arte, Andy Warhol e a pop art, o fotorrealismo e o neo-expressionismo; na música, John Cage, mas também a síntese dos estilos clássico e «popular» que se vê em compositores como Philip Glass e Terry Riley e, também, o «punk rock e a new wave»; no cinema, Godard; na literatura, William Burroughs, Thomas Pynchon e Ishmael Reed, de um lado, «e o nouveau roman francês e sua sucessão», do outro. Na arquitectura, entretanto, os seus problemas teóricos são mais consistentemente articulados e as modificações da produção estética são mais visíveis.
Jameson aponta a imbricação entre as teorias do pós-modernismo e as «generalizações sociológicas» que anunciam um tipo novo de sociedade, mais conhecido pela alcunha «sociedade pós-industrial».
A sua argumentação assenta na base que «qualquer ponto de vista a respeito do pós-modernismo na cultura é ao mesmo tempo, necessariamente, uma posição política, implícita ou explícita, com respeito à natureza do capitalismo multinacional em nossos dias».
Vale observar que Perry Anderson, ao ser convidado a fazer a apresentação do livro de Jameson, acabou por escrever o seu próprio «As origens da pós-modernidade», constituindo assim uma espécie de «introdução» ao conceito. Nele diz que o modernismo era tomado por imagens de máquinas [as indústrias] enquanto que o pós-modernismo é usualmente tomado por «máquinas de imagens» (p.105) da televisão, do computador, da Internet e do shopping centers. A modernidade era marcada pela excessiva confiança na razão, nas grandes narrativas utópicas de transformação social, e o desejo de aplicação mecânica de teorias abstractas à realidade. Jameson observa que «essas novas máquinas podem se distinguir dos velhos ícones futuristas de duas formas interligadas: todas são fontes de reprodução e não de «produção» e já não são sólidos esculturais no espaço. O gabinete de um computador dificilmente incorpora ou manifesta suas energias específicas da mesma maneira que a forma de uma asa ou de uma chaminé» (citado por Anderson, p.105).
A chamada «pós-modernidade», para Gianni Vattino (2001), «aparece como uma espécie de Renascimento dos ideais banidos e cassados pela nossa modernidade racionalizadora. Esta modernidade teria terminado a partir do momento em que não podemos mais falar da história como algo de unitário e quando morre o mito do Progresso. É a emergência desses ideais que seria responsável por toda uma onda de comportamentos e de atitudes irracionais e desencantados em relação à política e pelo crescimento do cepticismo face aos valores fundamentais da modernidade. Estaríamos a dizer Adeus à modernidade, à Razão (Feyerabend). (…) Que esperança podemos depositar no projecto da Razão emancipada quando sabemos que o financeiro é submetido ao jogo cego do mercado? Como pode o homem ser feliz no interior da lógica do sistema, onde só tem valor o que funciona segundo previsões, onde seus desejos, suas paixões, necessidades e aspirações passam a ser racionalmente administrados e manipulados pela lógica da eficácia económica que o reduz ao papel de simples consumidor».
O pensador brasileiro Sérgio Paulo Rouanet no seu estudo «As origens do Iluminismo» (1987) oportunamente observa que o prefixo pós tem muito mais o sentido de exorcizar o velho (a modernidade) do que de articular o novo (o pós-moderno). Ou seja, o que há é uma «consciência de ruptura», que o autor não considera uma «ruptura real». Rouanet escreve:
«depois da experiência de duas guerras mundiais, depois de Aushwitz, depois de Hiroshima, vivendo num mundo ameaçado pela aniquilação atómica, pela ressurreição dos velhos fanatismos políticos e religiosos e pela degradação dos ecossistemas, o homem contemporâneo está cansado da modernidade. Todos esses males são atribuídos ao mundo moderno. Essa atitude de rejeição se traduz na convicção de que estamos transitando para um novo paradigma. O desejo de ruptura leva à convicção de que essa ruptura já ocorreu, ou está em vias de ocorrer (...). O pós-moderno é muito mais a fadiga crepuscular de uma época que parece extinguir-se ingloriosamente que o hino de júbilo de amanhãs que despontam. À consciência pós-moderna não corresponde uma realidade pós-moderna. Nesse sentido, ela é um simples mal-estar da modernidade, um sonho da modernidade. É literalmente, falsa consciência, porque consciência de uma ruptura que não houve, ao mesmo tempo, é também consciência verdadeira, porque alude, de algum modo, às deformações da modernidade».


Referência:
www.espacoacademico.com.br

terça-feira, janeiro 24, 2006

Um bom professor…

«Numa entrevista na rádio perguntaram, ao extraordinário e original trompetista de jazz Dizzie Gillespie se tinha sido a falta de qualquer ensino especializado que lhe tinha desenvolvido um tal estilo, tão altamente criativo e individual. Ele respondeu de modo muito enfático: “Não, eu diria que não. Um professor ajuda a cortar caminho”. O entrevistador insistiu e perguntou: “ Mas um professor não poderia ter limitado o desenvolvimento do seu estilo particular, pelo menos, em certa medida?” Ao que respondeu: “Um bom professor, não”.» *


* Best, D. (1996). A racionalidade do Sentimento, (pp. 145-146). Lisboa: Edições ASA.

domingo, janeiro 22, 2006

Imagens do visível e invisível na cultura


[Fig.1.] Imagem original, Adriana Partimpim (CD). (2004). Trabalho sobre a imagem de Marta Pinto (2006).
[Fig.2.] Palhaço, de Marta Pinto (2001), trabalho sobre a imagem de Marta Pinto (2006).
[Fig.3.] Fotografia original de Janine Mehretu, acedida (Janeiro 3, 2006) a partir de http://www.insite05.org/index.php trabalho sobre a imagem de Marta Pinto (2006).