sexta-feira, novembro 04, 2005

Para ler no fim de semana...

Como prometi, aqui fica o link para o texto de Hafizur Rahman. Bom fim de semana!

quarta-feira, novembro 02, 2005

Análise do trabalho dos grupos


Como complemento do tópico da nossa última sessão “A cultura e as suas relações com o mundo; a habilidade de conviver e compreender outras culturas – reflexos no currículo” convidei os oito grupos formados a reflectir sobre o tema e procurar encontrar aspectos que constituíssem factores positivos e negativos potenciadores de “encontros” e “desencontros” entre culturas. Depois, desafiei que esse trabalho, concretizado em menos de uma hora na aula, pudesse ser eventualmente alargado e publicitado no blog, permitindo aí ser objecto de um debate que passaria a presencial quando nos voltássemos a encontrar na sexta-feira. Igualmente prometi um feedback pessoal quando estivessem reunidas todas as contribuições (falta uma, o que não é razão para não publicar este post hoje).

Considero que a melhor maneira de se começar a estudar um tema (seja qual for) é pensar sobre ele. Mesmo que aparentemente nos sintamos mal informados, ou mesmo ignorantes, é útil reflectir – ainda que seja sobre essa mesma ignorância. Mas regra geral “sabemos” sempre mais do que pensamos. Por isso, o exercício que fizeram mostra que foram na verdade referenciados aspectos essenciais, tendo para isso contribuído de modo particular experiências pessoais muito ricas.

Talvez influenciados pelo meu texto introdutório, a compreensão da língua aparece muitas vezes citada. Mas houve uma contribuição muito interessante, da Susana, que a propósito da sua estadia em Moçambique lembrou a distinção que Saussure (veja aqui a sua biografia resumida) fez entre “language” e “parole”, mostrando que uma coisa é falar a mesma língua e outra é o entendimento que se tem de algumas palavras, com significados diferentes (recordem o que vos disse na primeira aula, sobre conceito e termo).

Um factor negativo que aparece claramente identificado é o acentuar de diferenças que decorrem das relações de poder (reais ou imaginadas) mesmo quando inocentemente disfarçadas de boas intenções (a simples designação de “minorias” recorda sempre o mais e o menos, e quase sempre o poderoso e o indefeso). Mas as diferenças não podem e não devem ser escondidas, mas assumidas como elemento distintivo a ser aceite em favor da harmonia do conjunto (o conhecido exemplo, referido por um dos grupos, da salada de frutas, na qual o sabor de cada um dos elementos que a constituem contribui para um mais refinado paladar).

É precisamente nesta quase “quadratura do círculo”, em que avulta a contradição de a diferença dever ser esbatida e ao mesmo tempo assumida, que a escola – entidade responsável globalmente pelo currículo – tem de honrar a sua função. Porque toda a escola deve ser cultural, o planeamento do currículo tem de assentar em pressupostos nos quais a cultura – toda a cultura – prevaleça.

Perante isto, vamos então dar mais alguns passos e estudar como uma pedagogia diferenciada pode ajudar em situações multiculturais. Para além dos textos que forneci, aconselho uma visita ao site da ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas), o que pode fazer “clicando” “clicando” aqui.
Encontrará documentação pertinente produzida pelo extinto Secretariado Coordenador dos Programas de Educação Multicultural (Entreculturas), um organismo criado em 1991 pelo Ministro da Educação Roberto Carneiro e que teve como áreas de actuação:

1 Conhecer e diagnosticar a realidade multicultural nas escolas sobretudo através da Base de Dados Entreculturas, que disponibilizava informação pormenorizada sobre a origem étnico-cultural de todos os alunos dos ensinos básico e secundário, cruzando-a com outros dados relativos ao aproveitamento escolar.

2 Investigar e promover acções de intervenção nas escolas, entre as quais se destaca o desenvolvimento do Projecto de Educação Intercultural, que envolveu 52 escolas. Entre outros aspectos este Projecto proporcionou uma formação de longa duração em educação intercultural a 200 professores.

3 Colaborar na produção e disseminação de linhas de orientação sobre educação intercultural, por exemplo com a edição de publicações – relatos de boas práticas, textos de fundamentação teórica e materiais de apoio à formação.

Em Março de 2004 o Secretariado Entreculturas deixou de estar integrado no Ministério da Educação e foi afecto ao ACIME, com o nome de Gabinete de Educação e Formação.

Portanto, na sexta-feira vamos pensar na escola como entidade altamente responsável face à multiculturalidade.

Um post polémico

Um post polémico
(certamente)
Deixem que eu exteriorize a minha sensação das desarmonias e harmonias culturais.
Nó, professores, muitas vezes fazemos (sem querer) nas nossas escolas os grupos consoante os interesses, gostos, afinidades pessoais. Outras vezes, refugiamo-nos no “nosso grupo”, “nosso departamento”; outras vezes como todos sabemos, há escolas onde existem os “professores” e os “ provisórios”; muitas vezes se pensa que esta ou aquela disciplina é menos importante e até será inadmissível de nestas a avaliação quase ser obrigatória, à partida, muito positiva.
Neste Mestrado temos duas áreas de expressão. Nas nossas escolas para que nos solicitam? Quando existem níveis negativos, qual é a reacção do Conselho de Turma?

Afinal, as desarmonias na Educação não são só étnicas, sociais ou económicas…são, como todos nós sabemos , por opções políticas, por sermos mais ou menos sensíveis aos alunos menos favorecidos, ou aos mais favorecidos!

Será que, no nosso quotidiano , estaremos impermeáveis a estas desarmonias?
O que é que nós fazemos para criar as harmonias entre a nossa própria classe?

Em termos de representatividade da nossa classe quantos sindicatos existem?
Quando algum colega comete um erro, qual é a reacção de todos nós? É ajudá-lo a melhorar ou como muitas vezes acontece, ainda o fazemos sentir pior?
Bom, eu acredito que mesmo entre nós professores existem desarmonias culturais, sociais e…económicas.
Ou eu estarei assim tão enganado?
Será que aquilo que dizemos ou propomos é o que fazemos?

Hoje, posso dizer que vivo numa escola onde todos nos esforçamos por criar um GRUPO com um objectivo comum: Fazer melhor! Mas, já estive em outras em que quem fazia bem, era…uma ovelhinha
Gostava muito que vocês todos me dessem a vossa opinião: os professores favorecem as harmonias?

terça-feira, novembro 01, 2005

Para acabar de vez com os espúrios...

... decidi solicitar aos comentadores (nós incluídos) a ter um pouco mais de trabalho, adoptando uma faceta que existe no programa e que exige que se repita uma série de letras desordenadas. Isso evita que passem mensagens automáticas. Tínhamos de nos defender...

Argumentos sintetizadores de Harmonia e Desarmonia

ARGUMENTOS SINTETIZADORES DE HARMONIA E DE DESARMONIA

A cultura pode ser elemento de enriquecimento e de partilha mas também elemento segregador e mesmo gerador de conflito entre indivíduos de diferentes origens.

Alguns tópicos geradores de harmonia:

Aspectos culturais como a gastronomia, a música, as artes plásticas, as artes populares, a dança ou a literatura podem contribuir para uma troca de experiências e conhecimentos entre indivíduos de diferentes origens, para uma cultura mais pluralista aberta à diversidade.
No entanto, para que esta partilha se efectue é necessário que na sociedade exista paz social, geradora de uma convivência harmoniosa entre indivíduos. Também o indivíduo tem que estar aberto para a descoberta do outro e de uma outra cultura, para novos conhecimentos, compreender que os seus valores e costumes culturais não são absolutos.
Reflectindo sobre a actual sociedade, consideramos fundamental a escola enquanto local para as pequenas mudanças culturais, abraçar a multiculturalidade, pois no mundo da globalização, a sociedade tem de conhecer e tratar de igual forma todos os seus membros.
A escola é o local ideal para gerar pequenas transformações, criar uma valorização de cada indivíduo, privilegiando os indivíduos de origens menos favorecidas. E por fim cada indivíduo deveria ter a possibilidade de sair do seu país pelo menos uma vez para saber o que é ser diferente, e observar os seus valores de uma outra perspectiva e conhecer novas realidades culturais.

Alguns tópicos sobre desarmonia:

A sociedade é uma estrutura com valores e costumes há muito estabelecidos, e alguns deles pouco aceitáveis numa sociedade secular e multicultural, são disso exemplo afirmações enraizadas que demonstram racismo ou regionalismos ( é disso exemplo o” não faças judiarias”).
A língua também pode ser elemento de desarmonia por segregar ou diferenciar negativamente quem não fala a língua da maioria. As crenças religiosas levadas ao extremo do fundamentalismo ( nos EUA havia quem defendesse que os livros das bibliotecas deveriam ser todos queimados excepto, a Bíblia ).
Todos os dias nos confrontamos com declarações, nos noticiários de políticos nada democráticos ( temos alguns tristes exemplos do actual presidente iraniano sobre o estado de Israel), mostrando que se “o mundo caminha no rumo certo também olha muitas vezes para traz”. Mesmo na Europa democrática e solidária as desigualdades sociais e gettos criados por grupos minoritários são um entrave ao pluralismo.


A cultura e as suas relações com o mundo

A cultura pode ser um elemento de enriquecimento e de partilha mas também elemento segregador e mesmo gerador de conflitos. Existem, portanto, pontos de encontro e desencontro.

Pontos de encontro:
- a gastronomia,
- a música,
- as artes plásticas e as populares,
- a dança,
- a abertura ao mundo novo:
diversidade,
- a afinidade,
- o entendimento comunicacional,
- a proximidade geográfica.

Pontos de desencontro

- as crenças religiosas e fundamentalismos,
-os regionalismos,
- os costumes segregadores,
- o não entendimento da lingua,
-as desigualdades sociais e económicas,
-a política,
- o racismo,
- a discriminação: incluindo a sexual e comportamentos desviantes da sociedade dominante,
- a distancia geográfica.

Grupo. António Pacheco , Denise, Ana Carreira , Delfim

Harmonia/Desarmonia entre Culturas

Harmonia/Desarmonia entre Culturas
Factores harmónicos: Língua, códigos entendidos por todos;
Aceitação do outro como ser Humano;
Trabalho cooperativo;
Promoção de actividades multiculturais;
Participação activa das comunidades na vida social/cultural;
Relação de pertença e igualdade entre os pares;
Diálogo permanente sobre a riqueza da multiculturalidade;
Conhecimento da Cultura e sub-culturas existentes.
Segundo Banks (1988) a "adição ao currículo de alguns conteúdos acerca das culturas das minorias, pouco ou nada alterando a sua estrutura;” “Adição de conteúdos, conceitos, temas e perspectivas das várias culturas, sem no entanto alterar a sua estrutura básica…”; Inclusão de várias perspectivas, quadros de referência e conteúdos inerentes a problemas étnicos”; “ Desenvolver as competências dos alunos para a tomada de decisões inerentes a questões e problemas étnicos”.

Factores Enarmónicos:
Xenofobia;
Intolerância;
Religião;
Divisão de classes:
Níveis distintos de culturalidade e Literacia cultural;
Desigualdade social e económica;
Exclusão social ( melhor maneira de esconder a Pobreza);
Intolerância;
Racismo.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Uma nota para ter em atenção

A decisão de não fechar o blog aos comentários de eventuais leitores foi tomada na presunção de que essa abertura tinha alguma lógica e era mesmo vantajosa. Afinal, toda a estrutura das nossas actividades baseia-se no princípio saudável do confronto de ideias, procurando desse confronto extrair semelhanças e diferenças que, pelo filtro de uma exegese fundamentada, tornem menos nebulosa a teia de opiniões e tendam para uma compreensão alicerçada, tanto quanto possível, por dados da investigação.

É evidente que o blog é nosso - e qualquer leitor o compreende; mas ao aceitarmos que alguém entre no nosso mundo, temos de para com ele (ou ela) conservar a mesma atitude que temos uns para com os outros. Ou seja, concordar, ou discordar, aduzindo argumentos, mas tentando cumprir uma das máximas da aprendizagem cooperativa, que é "discordar sem ser desagradável".

Vem esta nota a propósito de um diálogo nem sempre muito feliz que existiu com um blogger que é meu leitor e comentador no meu próprio blog. Nem sempre estamos de acordo, mas isso não tem impedido que continuemos o diálogo, porque respeito as suas opiniões como ele tem respeitado as minhas, sem qualquer "agressão" mais ou menos ostensiva.

Estamos sempre a aprender, e por isso escrevo esta nota. Tal como penso que a escola se deve abrir à comunidade onde está inserida, penso igualmente que devemos abrir-nos à blogosfera, para aceitar um diálogo franco, honesto, mas urbano.